Hugo Arias: «Apenas o povo tem legitimidade para exigir uma comissão de contas. Por isso é essencial sensibilizar todo o povo para que se mobilize a fim de exigir essa auditoria.»
Eric Toussaint: «Na situação grega, efectivamente, tanto o partido da Nova Democracia (direita) como o Pasok (socialista) beneficiaram eles próprios ao endividar o país nos últimos 15 anos, portanto é óbvio que esses partidos não vêem com bons olhos uma auditoria, pois a sua responsabilidade vai ser exposta aos olhos do público. Portanto o que deve acontecer é a mobilização do público grego, dos sindicatos, da magistratura grega, dos intelectuais, dos artistas... As pessoas devem expressar a sua opinião e pressionar o poder político.»
Desde Março, uma equipa de pessoas de horizontes políticos e profissionais variados lançou uma iniciativa para a criação duma comissão de inquérito encarregada de auditar a dívida grega. Professores, jornalistas, artistas e sindicalistas do mundo inteiro apoiaram esta iniciativa. A comissão deverá dizer que parte da dívida é ilegítima e ilegal, e estabelecerá, baseada na legislação grega e internacional, que o povo grego não é obrigado a reembolsar essa parte da dívida. Entretanto a decisão assenta nas mãos de políticos e não de economistas. Ainda que a dívida fosse legítima, nenhum governo tem o direito de assassinar a sua população para servir os interesses dos credores.
Constantin Lapavitsas: «Ainda que se demonstrasse que a totalidade dos 350.000 milhões de euros da dívida soberana grega são legítimos, o que não é o caso, a Grécia jamais poderia honrá-la. Portanto é preciso apagá-la. Se o peso da dívida implica o desmantelamento dos hospitais, da educação, das estradas, nesse caso o custo social torna-se insuportável. No essencial, o governo grego diz que irá colocar-se em incumprimento de pagamento perante os cidadãos. Não compreendo como pode um governo socialista, eleito democraticamente, decidir ficar a dever aos seus cidadãos em vez de ficar a dever às instituições financeiras. Não existe outra alternativa, nos próximos decénios, a não ser não honrar a dívida, porque ela se baseia no neoliberalismo. E o comportamento neoliberal foi um crime contra a humanidade. Ninguém tem obrigação de pagar essa dívida, porque a dívida foi acumulada através de um funcionamento viciado do mercado.»