quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Estado policial


(recebido por email:)

«Enquanto este país dorme à sombra da crise, em Espanha há quem esteja acordado mesmo sem ela.
 
O que não passa nas nossas noticias (mas passa nos meios de comunicação social espanhóis e em directo! ver em http://www.elpais.com/global/):
 
  • que a policia interviu ontem, 3a feira de manhã na praça do sol (Madrid) retirando o posto de informação do movimento 15 de maio que ali restava. 
  • que o movimento 15 de maio convocou uma "passeata" pela praça do sol para as 20:00 de ontem 
  • que a policia barricou com mais de 50 veículos todos os acessos à Plaza del Sol, identificando quem queria passar, seleccionando quem deveria passar (com base no seu aspecto). Que foram dadas ordens ao próprio Metro para que suspendesse a paragem nas estações da Plaza del Sol (suspensão que a Renfe anunciou que terminariam hoje mas que ainda continuam sem fim há vista) 
  • que, impossibilitadas de irem até à Plaza del Sol,  milhares de pessoas se reuniram espontaneamente em assembleias noutros locais, à 00:30 (23:30 de lisboa), para decidir o que fazer.
  • que a situação continua a desenvolver-se a este exacto momento (seguir ao minuto emhttp://eskup.elpais.com/*15m)
  • que hoje haverá uma nova assembleia popular onde se decidirá sobre a realização de uma Marcha entre a estação de Atocha e a Plaza del Sol.
  • fotografias de tudo isto em http://www.elpais.com/fotogaleria/Desalojo/ultimos/indignados/elpgal/20110802elpepunac_1/Zes/1
e o que quase ninguém repara,
  • que esta questão trata efectivamente de uma "democracia" que usa o músculo para se defender do contágio de outra "Democracia" que, a 15 de Maio, de forma praticamente espontânea e desorganizada, e sem acção dos partidos políticos ou sindicatos, começou, em Madrid, um enorme movimento internacional. 
  • que este movimento se inspirou nas revoltas do Norte de África e no 12 de Março ocorrido em Portugal.
  • que nele, pessoas pacíficas resolveram juntar-se nas praças das suas cidades e começar a discutir e reivindicar o que é seu, o direito a discutir, o direito a decidir, o direito de a fazerem-se representar, o direito a fazerem-se respeitar, o direito a juntos procurarem, de forma inovadora e alternativa, soluções para um mundo (o seu!) melhor... 
  • isto face aos abusos sistemáticos de um sistema político, jurídico e mediático que mais não faz que representar interesses económico-financeiro, alheios à maioria das pessoas, e fortemente atentatórios da sua qualidade de vida e direitos fundamentais. 
  • que este movimento já dura há mais de dois meses, em vários pontos do mundo, com maior ou menor intensidade, e sobrevive à repressão e partidarização. Mais informações sobre tudo isto no site da Acampada Sol (http://madrid.tomalaplaza.net/), no take the squares (www.takethesquare.net) e em multiplos outros sitios da internet a partir destes. Existe também um orgão de informação alternativo http://periodismohumano.com/ valerá a pena ir consultando e que, curiosamente, desenvolveu recentemente uma versão em Português.
  • que a actual democracia usa polícia para prevenir estes ajuntamentos e debates de ideias, tentando impedir, acima de tudo, que a ideia de pessoas comuns podem autoorganizar-se de modo a fazer política, se espalhe. Poderá ser democracia, mas "Verdadeira" não será por certo. Foi isso que se passou a 4 de Junho no Rossio, em Lisboa. É isso que se passa hoje na Plaza del Sol, em Madrid. Foi isso que se passou em Bruxelas, em Atenas, e continua a passar-se por esse mundo democrático fora.
o que é difícil entender é
  • porque é que, se a situação em Portugal é bem pior que em Espanha, e 40% dos eleitores não votam, e a maioria das pessoas está descontente com a situação "a que isto chegou", 
  • e são tão evidentes os "abusos sistemáticos de um sistema político, jurídico e mediático que mais não faz que representar interesses económico-financeiro, alheios à maioria das pessoas, 
  • e fortemente atentatórios da sua qualidade de vida e dos seus direitos fundamentais" (aumentos de preços, aumentos de impostos, vendas ao desbarato de bens públicos, ineficiência na justiça, restrição dos direitos laborais, degradação dos cuidados de saúde e educação e sua entrega aos privados, desistência do estado social a favor do estado caritativo, etc, etc, etc, etc), 
  • os habitantes deste país continuam a recear o radicalismo(?!) de informar-se por meios alternativos, o radicalismo(?!) de discutir na praça pública novas ideias e de ter uma opinião sobre elas, o radicalismo(?!) de se organizarem de forma alternativa à dos partidos e sindicatos, o radicalismo(?!) de gerarem novas soluções diferentes das que lhes são indicadas ou impostas, o radicalismo(?!) de exigir um mínimo de respeito pela sua pessoa, pela sua família, pelos seus bens, 
  • e, porque não!, o radicalismo(?!) de exigirem e construirem um novo sistema uma vez que o actual não os serve, abusa deles, e no seu extremismo de austeridade neoliberal (não será esse radical?) ameaça levá-los (e às suas famílias) até ao fundo do precipício. Tudo para que certos e determinados interesses, certas e determinadas pessoas, não sejam postas em causa.»

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