TORRE BELA (1975-1977) de Thomas Harlan
«Wilson – Qual é o valor da tua ferramenta? Qual é o valor da tua ferramenta?
Outro ocupante, José Quelhas – Não sei.
Wilson – É isso que tu dizes. Tudo isto é da cooperativa. Não é tua, nem
deste. Nem minha.
José Quelhas – E os outros que não trazem ferramenta nenhuma? A ferramenta é da casa deles e a minha fica da cooperativa. A minha é da cooperativa e os outros que não trouxeram nenhuma, nem querem trazê-las para não levarem descaminho e dão descaminho às dos outros.
Wilson – Dás-me licença?
José Quelhas – Sim.
Wilson – Isto tem o valor de 100 escudos. Vem para a cooperativa e a
cooperativa dá-te 100 escudos e já não é teu. É meu, é deste, é de todo o
mundo.
José Quelhas – Pode ser muito bem. Eu é que trabalho com ela. Amanhã
preciso de fazer trabalho naquilo que é meu, no bocadito que lá tenho e tenho
que comprar outra. Depois essa outra fica a ser da cooperativa. Depois vou
comprar outra e fica sempre da cooperativa. Daqui a nada, também o que eu
visto, o que eu calço, é da cooperativa. Se eu comprei...
Wilson – É isso, é isso mesmo.
José Quelhas – Amanhã, tira-me as botas, fica a ser da cooperativa e eu
fico nu.
Wilson – Se me dás licença, é essa a nossa finalidade. Tu não ficas nu, tu
ficas com mais roupa do que a que tens.
José Quelhas – Não vejo isso, não vejo nada disso».
(diálogo transcrito por José Filipe Costa, «Quando o cinema faz acontecer: o caso Torre Bela» in TRADIÇÃO E REFLEXÕES - Contributos para a teoria e estética do documentário, p.234)
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